26 de setembro de 2005

Mais coisas irritantes

O Blasfémias às vezes faz-me chegar a mostarda ao nariz. Tudo bem que reflecte a natureza caótica do capitalismo; tudo bem que seja adepto cego do FCP. Alguns colaboradores são muito chatos e cinzentos; além disso defendem a regionalização, o que me parece incrível que façam dado que são liberais e isso, no nosso miserável país, comporta precisamente um aumento do peso do Estado e diluição de responsabilidades!
Já só tenho practicamente paciência para o JM, cuja escrita curta e brutal é sempre um prazer de ler, tal como o Bertrand Russel ou o Léon Krier na arquitectura - podemos não concordar, mas é inegável e desarmante a simplicidade dos argumentos. Ora, um desses que me irrita profundamente é esta resposta ao JPP. E o que me irrita nela é que pega na mesma falácia Hegeliana já aqui discutida antes em relação à arquitectura. Ou seja, a ideia de que “o mundo em que vivemos” é uma entidade com uma força inexorável e de a ela nos termos que submeter, sob pena de desaparecermos ou de sermos esquecidos pela História.
Não me interessa se ao mundo moderno não serve um sistema de valores – isso é relativismo moral e o maior perigo para as nossas sociedades ocidentais. Nem para aqui me interessa a “qualidade da lei”, ou o que quer que isso seja. Eu acho que toda a “Felgueiras situation” é mais que deplorável e incomoda-me que, aparentemente, seja normal para muita gente, ou que seja SÓ um problema de termos uma lei estúpida. É claro que a lei deve ser eficaz (ou seja, fazer mais com menos) e preparada para lidar com o pior da espécie humana. Mas se não houverem valores nem moral nem civismo também não há lei que nos valha, porque para fazer as coisas funcionar seria necessário regulamentar TODAS as niquices – in my book, aumentar o já transbordante peso do Estado.
O que me irrita no Blasfémias é o pensamento abstracto que vê exclusivamente o mercado e a lei (por muita “qualidade” que tenha) como soluções para os nossos males. Eu também acho que precisamos de muito menos Estado, de muito mais mercado e de muito melhores leis. Mas também de melhores pessoas – urgentemente.

P.S. 1 • Não tenho aqui à mão o livro do Popper, mas ele diria qualquer coisa como: o Homem cria a História, não é um seu mero produto;
P.S. 2 • Foi o próprio JM que, tanto quanto me lembro, atacou o relativismo moral quando o “Emperor Palpatine” se tornou Papa... (aliás, usando mesmo diálogos do Star Wars!)

3 comentários:

Anónimo disse...

Um dia acordas pra vida e das-te conta que, tal como os outros, do mundo so tens uma visao. Uma mantazinha de retalhos a cobrir o caos. Talvez nessa altura consigas perceber que o simbolo(a representacao, recrudescencia de um platonismo mal disfarcado)na sua construcao epistemologica so serve a tua necessidade narcisica de identidade. Ja a metafora e relacional.

Alexandre disse...

Lord: claramente não sou suficientemente iluminado para perceber as punhetas mentais que insistes em derramar para aqui. Mas também... why bother?

Anónimo disse...

"The Myth of The Framework", capitulo com o mesmo nome. Se gostas tanto do gajo ao menos aprende com ele...